Da frustração ao otimismo: atuais e futuras gerações terão mais perspectivas
Se você tem um filho com menos de 15 anos, saiba que a sorte dele é maior do que a sua. Se for neto, tem tanta sorte quanto você. Como assim?
A possibilidade de retomada de um ciclo consistente e duradouro de crescimento econômico no país ilumina as novas gerações, que devem aproveitar as benesses de uma economia em alta.
Seus pais, gente que hoje têm entre 20 e 50 anos, ao contrário, enfrentaram mais dificuldades por viverem em um momento marcado pela estagnação e poucas oportunidades de trabalho e renda - um período de vacas magras, enfim.
O último ciclo de forte expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi de 1968 a 1976, quando a economia crescia a um ritmo médio próximo a 10% ao ano. Desde então, o país patina, apresentando ora resultados satisfatórios, ora desempenhos pífios. A avaliação dos economistas é de que, agora, o Brasil reúne as condições necessárias para a repetição de um novo ciclo expansionista.
"Diria até que as variáveis são melhores do que nos anos 1970, ou seja, temos as ferramentas para crescer por um período ainda maior", diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor da Dívida Pública do Banco Central.
Pleno emprego
O PIB mostra o comportamento geral de uma economia, pela soma dos bens e serviços produzidos por um país - é formado pela indústria, agropecuária e serviços. O fato de estar em expansão forte abre, na vida prática de cada um, uma vastidão de oportunidades.
Aposentado do Banco do Brasil desde os anos 1980, Alvimar Gomes da Fonseca, 72 anos, sonha com a volta de uma época em que as coisas "eram mais fáceis". Não que fossem de fato, é claro. Mas as pressões vindas da falta de oportunidades eram menores. Hoje, torce por seus netos João Vítor e Carolina Mundim, de 10 e 15 anos, respectivamente.
Entre as duas gerações de Alvimar e João Vítor, há a comerciante Flávia Neumar Gomes da Fonseca, filha do aposentado. Ela é dona de uma loja de roupas na Savassi, tradicional região de Belo Horizonte.
Nascida na década de 1970, Flávia cresceu, estudou e trabalhou em um país cujo PIB médio aumentou menos de 2% em duas décadas. "Eu sei de uma coisa: aos 33 anos comprei meu carro e já cheguei a ter quatro na garagem", diz, saudoso, Alvimar Fonseca. "Enquanto isso, a Flávia tem só um".
Se tudo der certo, João Vitor e Carolina encontrarão um país com muito mais oportunidade econômica. De emprego, por exemplo. Cálculos da Fundação Seade, vinculada ao governo paulista, mostram que, a cada ponto percentual de crescimento do PIB, a taxa de desemprego recua meio ponto percentual na Grande São Paulo. Dessa forma, se a previsão de expansão média de 5% nos próximos anos vingar, a economia do país passará à condição de pleno emprego.
Para ficar
Na última terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os últimos números do PIB: cresceu 9% ante o primeiro trimestre do ano passado, a maior expansão em tal comparação de toda a série histórica iniciada em 1995.
Um indicador mais apropriado para ilustrar a melhora é lembrar que o consumo das famílias brasileiras cresce ininterruptamente há seis anos - aumentou 9,3% no primeiro trimestre frente a igual período de 2009.
Melhor ainda é que os investimentos dispararam 26%. Isso é importante para permitir a manutenção da expansão do PIB sem a arrancada dos preços, pois o país terá mais produção para acompanhar a alta do consumo, impedindo a chamada inflação de demanda.
Inflação
Economistas estimam que o país precisa de taxa de investimento de 25% do PIB para ter mais segurança. Atualmente, essa taxa é inferior a 20%. "O país consegue agüentar um crescimento de curto prazo sem provocar inflação, mas, para crescer a pelo menos 5,5% nos próximos anos, o Brasil terá de investir bem mais do que está fazendo", diz o economista Alcides Leite Júnior, da Trevisan Escola de Negócios.
Uma das características desses momentos expansionistas é a transformação do país em um canteiro de obras - o que já existe na China há alguns anos. Hoje, uma viagem de carro pelo país revela inúmeras obras, privadas e públicas. É um cenário que a chamada geração produtiva (que tem de 20 a 50 anos) não está acostumada a ver no país. "Tomara que venha para ficar. Meus netos merecem", afirma Alvimar da Fonseca.